Alberto Stawinski

Alberto Stawinski
Alberto Stawinski
Nascimento 10 de agosto de 1909
Morte 28 de maio de 1991 (81 anos)
Ocupação lexicógrafo, historiador, presbítero regular, músico, escritor
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Alberto Victor Stawinski (São Marcos, 10 de agosto de 1909 – Caxias do Sul, 29 de maio de 1991), também conhecido como frei Alberto de São Marcos, foi um frei capuchinho, padre, músico, professor, cronista, lexicógrafo e tradutor brasileiro.[1][2] Como historiador, deixou obras de referência sobre os capuchinhos e os imigrantes poloneses,[3][4] e foi um pioneiro no estudo da língua talian.[5]

Biografia

Nascido em São Marcos em 10 de agosto de 1909, quando a cidade ainda era um distrito de Caxias do Sul,[2] era filho de Francisco Stawinski, professor, e Otilia Strzelecka, ambos nascidos em Kutno, na Polônia.[6] Seu avô Andreas Stawinski havia sido o líder da imigração polonesa para Caxias do Sul em meados de 1889, conduzindo cerca de 300 famílias.[4][7] Fez seus primeiros estudos na escola que o pai mantinha, e com cinco anos já ajudava na Igreja como coroinha. Em 1917 a família se mudou para Erechim, onde seu pai começou a trabalhar como agente dos correios. Em torno de 1919 foi atraído para a Ordem dos Capuchinhos por influência do frei Gentil de Caravaggio, do qual mais tarde seria biógrafo.[3][8]

Em 1920 ingressou no Seminário Seráfico dos Capuchinhos de Veranópolis, onde concluiu o ginásio em 1924. Fez o noviciado em Flores da Cunha, proferindo os primeiros votos em 1º de setembro de 1927.[3] Até 1933 estudou Filosofia e Teologia no Convento de São Francisco de Garibaldi, sob a orientação de Dom Cândido Maria Bampi.[6] Foi ordenado sacerdote em Porto Alegre em 31 de julho de 1933 pelo arcebispo Dom João Becker,[4] celebrando sua primeira missa em 16 de janeiro de 1934 em Erechim.[9] Foi em seguida indicado coadjutor em Sananduva, e depois em Paim Filho, São João da Urtiga e Maximiliano de Almeida, dando assistência a vários núcleos de imigração polonesa.[6][7]

Primeiro governo provincial dos capuchinhos do Rio Grande do Sul. Sentados: Caetano Angheben, José Cherubini (José de Bento Gonçalves, ministro), Alberto Stawinski. De pé: Cláudio Mocelin e Fulgêncio Caron, 1942

Em 1936 foi nomeado reitor e professor do Seminário de Veranópolis, dando aulas de português, francês, latim, grego, italiano, polonês, canto e teoria da música.[3][7] Em 1942 foi criada a Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul como uma jurisdição autônoma, sendo indicado diretamente de Roma como seu titular (ministro provincial) o frei José de Bento Gonçalves.[10] Frei Alberto foi escolhido como um dos quatro membros do governo para assessorá-lo.[11] Em 21 de dezembro de 1945 foi escolhido ministro na primeira eleição autônoma do Capítulo,[10] e em 1946 foi eleito guardião.[6] Abriu seminários em Santa Maria e Vila Flores e promoveu a construção do Hospital São Paulo em Lagoa Vermelha.[7] Expirando seu mandato de três anos, passou a dirigir a paróquia de Santo Antônio do Partenon de Porto Alegre, sendo responsável pelo reinício das obras paralisadas da igreja,[6] e foi capelão das Irmãs de Nossa Senhora de Aparecida.[3] Em 1952 começou a lecionar Pedagogia, Religião e Filosofia da Educação na Escola Normal de Camaquã, assumindo também a regência da capela da escola. Em 1957 voltou a Porto Alegre para ser capelão e professor do Colégio Sévigné, lecionando as mesmas disciplinas. Em 1958 foi eleito presidente da seção estadual da Conferência dos Religiosos do Brasil, e nomeado lente de Oratória Sagrada no Curso de Teologia dos capuchinhos de Porto Alegre.[3][6][7]

Entre 1961 e 1964 foi vice-ministro da Província e reitor e professor de inglês do Seminário de Veranópolis, de 1964 a 1965 foi superior do Convento de São Lourenço de Brindes em Porto Alegre e assistente eclesiástico das Irmãs de Nossa Senhora de Aparecida, partindo então para os Estados Unidos para estudos sobre televisão, planejando inaugurar uma emissora da Ordem, o que efetivamente aconteceu, mas teve curta duração.[3] Em 1969 transferiu-se para Caxias do Sul, de onde não mais sairia, vivendo no Convento da Imaculada Conceição, assumindo a direção do Instituto Histórico da Província dos Capuchinhos,[12] ajudando a fundar a Escola Dom Vital, e colaborando com o jornal Correio Riograndense na parte técnica, reestruturando sua seção de tipografia e adquirindo novos equipamentos.[3] Foi um dos editores da Editora São Miguel dos Capuchinhos, ocupado com a seção de História.[13] Em 1975 era diretor espiritual e capelão do Instituto Bom Pastor,[14] e em 1982 foi nomeado juiz do Tribunal Eclesiástico Regional de Porto Alegre.[3] Em 1984 era o presidente do Tribunal.[15]

Faleceu enquanto dormia em 30 de maio de 1991 em Caxias do Sul, vítima de edema pulmonar. Recebeu muitas homenagens e vários obituários.[8][12][16] Seu obituário no jornal Pioneiro disse que "a Igreja e a sociedade perderam uma enciclopédia e uma personalidade íntegra na consagração com Deus".[8] O bispo diocesano Dom Paulo Moretto disse que ele "foi um franciscano feliz pela vocação que Deus lhe concedeu. Frei Alberto soube amar e compreender o povo do qual teve origem, mas soube amar com igual carinho nossa colônia italiana".[12] O embaixador da Polônia no Brasil enviou mensagem dizendo que "sua contribuição à comunidade brasileira e polono-brasileira em Caxias permanecerá inesquecível. Morreu um grande homem da Igreja, um eminente brasileiro e polonês".[17]

Obra

Como sacerdote foi muito estimado pela sua bondade, caridade e zelo pastoral, e pelo incentivo que deu às vocações.[4][6] O historiador Mário Gardelin, com quem colaborou, o tinha em alta conta e o chamou de "uma das glórias da Igreja Católica do Rio Grande do Sul e esplendor dos filhos de São Francisco de Assis, sacerdote de virtudes, amor e dedicação".[4] Também foi elogiado pelo colega como pesquisador e "historiador de larga autoridade".[18]

Poliglota, dominava o talian, polonês, espanhol, francês, inglês, latim e grego. Escreveu várias obras didáticas sobre gramática, lógica, música e latim.[6] Sua extensa Sintaxe latina foi um sucesso editorial, sendo reimpressa várias vezes.[8] Promoveu a língua e cultura polonesa em várias cidades[3] e manteve uma coluna em polonês sobre o folclore da etnia no jornal Correio Riograndense.[19] Colaborou em vários periódicos e jornais, principalmente no Correio Riograndense e no Lud (em polonês).[7] Deixou importante contribuição para a historiografia do estado em muitos artigos e em particular com as obras Primórdios da imigração polonesa no Rio Grande do Sul (1875-1975), Os 50 anos de atividades dos Capuchinhos no Rio Grande do Sul, Capuchinhos da primeira hora e Capuchinhos italianos e franceses no Brasil (este em parceria com Mário Gardelin), que se tornaram referenciais.[3][4] Colaborou na principal produção de Fidélis Dalcin Barbosa, A Diocese de Vacaria.[20] Foi biógrafo dos destacados religiosos Josué Bardin e Fortunato Giacomel (Frei Gentil).[21][22] Traduziu para o português várias obras polonesas, entre elas Livro da vida de Ksiega Zycia,[3] e Conheci o bem-aventurado Maximiliano Maria Kolbe, de frei Justino Mlodozeniec,[23] bem como artigos, poemas, orações e canções do inglês, francês e italiano.[3]

Escreveu a Gramática e Vocabulário do Dialeto Italiano-Riograndense, com 124 páginas, incluída como anexo na 5ª edição do Nanetto Pipetta de 1976,[24][3] a primeira produção em seu gênero,[5][25][26] e o volume independente Dicionário Vêneto Sul-Riograndense-Português publicado em 1987 pela editora da Universidade de Caxias do Sul em parceria com a Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes e o Correio Riograndense, com quase 10 mil verbetes,[27] obra elogiada por Rovílio Costa,[28] Gardelin ("uma contribuição de primeira ordem"),[25] e Dante de Laytano, que a qualificou como "um dos mais belos e úteis livros escritos no Rio Grande do Sul, abordagem única e de grande alcance linguístico, [...] obra preciosíssima de estudos de linguagem na nossa província", que mais do que um dicionário, era um ensaio de linguística,[29] "obra prima de pesquisa, cultura e originalidade, trabalho de nível científico nada comum".[30] A obra também foi homenageada na Assembleia Legislativa pelo deputado Valmir Susin,[27] e foi reeditada na Itália transformada em dicionário trilíngue com o acréscimo da versão para o italiano padrão por Ulderico Bernardi e Aldo Toffoli, com apoio do Banco de Treviso e a Universidade de Veneza,[31][32] também recebendo elogios.[33] Darcy Luzzatto atualizou e expandiu a obra em seu Dissionàrio Talian-Português.[34]

Homenagens

Em 1958 recebeu muitas homenagens pelo seu jubileu de prata sacerdotal,[6] e novamente em 1983 pelo seu jubileu de ouro, quando a Prefeitura de São Marcos lhe entregou uma placa de reconhecimento.[7][35] Em 1988 recebeu o Troféu Caxias na categoria Cultura, concedido pelo jornal Pioneiro e a Rádio São Francisco.[3] Em 1989 foi patrono da Feira do Livro de Caxias[36] e recebeu uma placa em homenagem da Prefeitura.[37] O Governo do Estado o premiou com uma medalha de ouro por suas contribuições à cultura.[3] Foi um dos homenageados na mostra Peregrinos e Forasteiros, montada no Museu dos Capuchinhos de Caxias do Sul em 2016,[38] e em 2002 a Biblioteca Municipal de São Marcos inaugurou o Espaço Cultural Frei Alberto Stawinski.[39] Foi biografado no Dicionário Biográfico da Diáspora Polonesa no Brasil de Zdzisław Malczewski e na Enciclopédia da Emigração Polonesa de Kazimierz Dopierała.[40][41]

Ver também

Referências

  1. Gardelin, Mário. "Efemérides". Folha de Hoje, 28/05/1994, p. 21
  2. a b Gardelin, Mário. "Efemérides". Folha de Hoje, 10/08/1994, p. 12
  3. a b c d e f g h i j k l m n o p Sartori, Werony. "Frei Alberto Stawinski - Troféu Caxias 112". Pioneiro, 07/08/1988, p. 27
  4. a b c d e f Gardelin, Mário."Para frei Alberto Stawinski nos 50 anos de seu sacerdócio". Pioneiro, 03/08/1983, p. 4
  5. a b Santin, Silvino."Os falares dialetais como expressão da vida pessoal e familiar". In: Convegno I confini del dialetto. Cima Sapada, 2002
  6. a b c d e f g h i "Jubileu de Prata sacerdotal de frei Alberto Stawinski". Diário de Noticias, 25/07/1958, p. 28
  7. a b c d e f g "Frei Alberto: 50 anos de padre". Correio Riograndense, 20/07/1983, p. 19
  8. a b c d "Caxias do Sul faz homenagem a frei Alberto Stawinski".
  9. "Erechim". Staffetta Riograndense, 17/01/1934, p. 3
  10. a b "Capuchinhos realizam Capítulo Provincial". Correio Riograndense, 10/08/2006, p. 10
  11. "Freis iniciam caminhada capitular". Correio Riograndense, 16/02/2006, p. 10
  12. a b c "Morte instantânea leva o capuchinho Frei Alberto". Correio Riograndense, 05/06/1991, p. 12
  13. "Padre Kolbe: do bunker aos altares". Correio Riograndense, 16-23/10/1971, p. 11
  14. "O Bom Pastor". Pioneiro, 08/11/1975, p. 18
  15. "Edital de Comunicação". Correio Riograndense, 30/05/1984, p. 4
  16. Colombo, Aldo. "A melhor parte da vida". Correio Riograndense, 12/06/1991, p. 11
  17. Pawliszewski, Stanislaw. "Frei Alberto". Correio Riograndense, 17/07/1991, p. 4
  18. Gardelin, Mário. "Os primeiros proprietários de Antônio Prado". Folha de Hoje, 22/09/1990, p. 12
  19. "Idzie Maciek". Correio Riograndense, 06/04/1983, p. 11
  20. Barbosa, Fidélis Dalcin. Semblantes de Pioneiros. Projeto Passo Fundo, 2013, p. 9
  21. Gardelin, Mário. "Efemérides caxiense". Folha de Caxias, 28/12/1989, p. 29
  22. Luís, Pedro. "O capuchinho Frei Gentil". Correio Riograndense, 25/03/1970, p. 3
  23. Gardelin, Mário. "Frei Maximiliano Kolbe". Pioneiro, 13/05/1981, p. 4
  24. "Naneto Pipetta: 70 anos de um herói". Correio Riograndense, 19/01/1994, p. 14
  25. a b Gardelin, Mário. "Dicionário vêneto para imigrantes". Correio Riograndense, 17/06/1987, p. 16
  26. Costa, Rovílio. "Col frate polaco". Correio Riograndense, 07/03/2001, p. 19
  27. a b "Dicionário Vêneto nos anais da Assembléia Legislativa". Correio Riograndense, 29/06/1988, p. 15
  28. "Dicionário vêneto". Pioneiro, 17/05/1987, p. 19
  29. "Dante de Laytano elogia a publicação do dicionário". Correio Riograndense, 27/07/1988, p. 15
  30. Laytano, Dante de. "Dicionário". Correio Riograndense, 07/09/1988, p. 4
  31. Gardelin, Mário. "Dicionário que mantém raízes". Pioneiro, 26-27/09/1998, p. 101
  32. "Dicionário Vêneto". Correio Riograndense, 28/09/12994, p. 15
  33. "Estudiosos elogiam frei Alberto Stawinski". Correio Riograndense, 22/05/1991, p. 8
  34. "Dissionàrio Talian-Português". Correio Riograndense, 15/11/2000, p. 20
  35. "Frei Alberto recebe homenagem de S. Marcos". Correio Riograndense, 07/09/1983, p. 23
  36. "Feira do Livro - a história". Pioneiro, 27/09/2002, p. 55
  37. "Feira do Livro estimula hábito a novos leitores". Correio Riograndense, 18/10/1989, p. 1
  38. Deves, Maristela Scheuer. "Mostra Peregrinos e Forasteiros abre quinta no MusCap, em Caxias". Pioneiro, 27/04/2016
  39. "Espaço Cultural Alberto Stawinski". Correio Riograndense, 15/05/2002, p. 3
  40. Malczewski, Zdzisław. Słownik biograficzny Polonii brazylijskiej. Uniwersytet Warszawski, 2000
  41. Dopierała, Kazimierz. Encyklopedia polskiej emigracji i Polonii: P-S. Oficyna Wydawnicza Kucharski, 2003, p. 467
Controle de autoridade
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